sábado, agosto 11, 2012

Estou deprimido, o que fazer para melhorar?

25-07-2012, em Saúde E Bem-Estar, por Miguel Lucas

Há tantas pessoas no mundo que estão “deprimidas” e sentem-se estigmatizadas e diferentes, como se  andassem por aí com um grande cartaz ao pescoço dizendo: “Fique longe de mim, eu tenho depressão.” Algumas pessoas carregam um peso enorme por diagnósticos exagerados, por crenças irrealistas acerca do seu problema, tudo devido à catalogação depreciativa do problema que enfrentam. Eu não sou apologista de rótulos que depreciam a pessoa, ou pior, que a remetem para um estado de vitimização que prejudica o estado em que se encontra. Os equívocos que giram em torno da depressão, dos estados deprimidos e do seu tratamento ou superação por vezes não permitem que a pessoa que se depara na sua vida com esta situação a encare de forma funcional e esperançosa. A pessoa tende a cair nas malhas da catalogação, assumindo rótulos do género:

“Eu sou deprimido.”
“Eu sou Bipolar.”
“Eu tenho depressão crónica.”
“Eu tenho de tomar medicação para o resto da vida.”


VOCÊ É MAIS QUE O SEU ESTADO DEPRIMIDO
Mesmo na presença da depressão ou de um estado deprimido breve, a pessoa nunca é nada destas coisas. A pessoa que se encontra perante uma situação do género não se define meramente pelo seu estado ou transtorno que possa estar a sofrer. A pessoa é muito mais que isso, continua a ser mãe, pai, filho, irmão, aluno, colega, amigo, trabalhador, atleta, pintor, entre outras. A pessoa que sofre continua a ser aquela que pretende melhorar o estado em que se encontra, e esse estado não representa aquilo que ela é.

Quando nós nos rotulamos não há jeito de evitar assumirmos a ideia que temos de como é ser-se deprimido ou ter depressão ou qualquer outra coisa. A pessoa cola-se a essa ideia (na maioria das vezes uma ideia depreciativa), conduzindo-se a si mesma para uma cooperação que a mantém nesse estado de ser. É um pouco semelhante ao comportamento de algumas das mulheres que são vítimas de abuso. Uma das principais razões porque as mulheres agredidas ficam com os seus parceiros é porque elas não acreditam que têm a capacidade de fazer qualquer coisa em seu benefício, porque os seus parceiros retiraram-lhes a sua confiança ao longo dos anos. Estas mulheres foram desautorizados porque foram ouvindo muitas vezes dos seus parceiros, frases do tipo:  ”Você é inútil ” ou ” Você não é boa em … ” ou ” Você não pode fazer isso” ou “Você é fraca. ” Este é o tipo de perda de confiança e de esperança que acontece com as pessoas quando estabelecem rótulos a si mesmas. Simplesmente perdem a capacidade de se ajudarem a si mesmo. A pessoa julga não conseguir mudar a sua vida para melhor.

TRISTEZA, DEPRESSÃO E APEGO À CATALOGAÇÃO
O crescente aumento da depressão um pouco por todo o mundo é algo de paradoxal. Facilmente conseguimos perceber que as condições de vida têm vindo a melhorar, as pessoas possuem mais riqueza, mas parece não estar a promover a satisfação de vida geral de uma grande percentagem das pessoas. O dinheiro e o materialismo não trás necessariamente felicidade. E, na atualidade temos vindo a ficar rotulados como um mundo mais deprimido.

Mas, será que as pessoas em geral estão realmente sentindo-se mais deprimidas ou por vezes passam por um período prolongado de tristeza?

É, que assumir que se tem depressão como algo estático e passar a catalogar-nos como uma pessoa deprimida, pode conduzir-nos à aceitação da situação, perdendo a esperança num tratamento e/ou superação total. E, na verdade isto pode ser mera ilusão criada por um sistema que empurra as pessoas para este tipo de conclusões. Não pretendo passar a mensagem que a pessoa que se sente deprimida não sofre, ou que está a sofrer porque quer. Nada disso. O que pretendo dizer é que a depressão ou os estados deprimidos, são algo temporário, que podem ser melhorados ou superados na totalidade. Ou, que na verdade pode não ser depressão, ou que pode não ser apenas depressão.

Em muitos casos, e alguns dos quais eu atendi em consulta, a pessoa está sentindo uma tristeza profunda. A tristeza por uma vida que não tem como pretende, tristeza por não ter um relacionamento satisfatório, tristeza por não estar num trabalho em que se sinta realizada ou valorizada, a pessoa encontra-se triste. A tristeza pode levar a pessoa ao sentimento de desespero por percepcionar que não tem a vida que deseja.

É exatamente no sentimento de tristeza que podemos pegar para que a pessoa entenda um conjunto de coisas que se passam com ela, no sentido de a capacitar para se ajudar a si mesma. Expliquei aprofundadamente esta questão nos artigos: Tristeza, qual o seu propósito? e O lado positivo do desapontamento e da tristeza. No exato momento que você perceba que a sua depressão ou estado deprimido temporário estabelece uma forte relação com a sua tristeza profunda, pode formular uma pergunta tremendamente capacitadora:

“O que posso fazer para me sentir melhor?”

Quando nós nos rotulamos como “Eu tenho depressão” ou “Eu sou deprimido” ou “Eu sou triste” a nossa mente não tem como fugir a essa declaração, tomando isso como um fato, não há como mudar. Isto pode ser chamado de catalogação. Neste sentido, a  catalogação pode ser considerada quando tomamos um verbo ou adjetivo e transforma-mo-lo num substantivo estático. Um estado como a depressão torna-se num enorme e às vezes intransponível estado esmagador do ser.

É mais capacitador, funcional e esperançador dizermos e termos a noção de “estar deprimido” como algo transitório, que tem um inicio, e mais importante um fim. Uma catalogação é como um bloco, percepciona-se como algo intransponível. Ao olhar o seu estado deprimido ou a sua depressão como algo transitório, possível de melhoria e de superação total, você assume que é algo que está simplesmente bloqueando o seu progresso. E como tal, pode ser removido.

O que soa mais duradouro?: “Eu tenho depressão.” ou “Estou a sentir-me deprimido.”

Desapegue-se da catalogação que foi construindo na sua cabeça. Olhe para si mesmo como alguém que é mais do que o seu estado deprimido ou que a denominação de um transtorno de humor conhecido como depressão. Você é aquela pessoa que está a ser afetada por algo que pode ser melhorado, superado e acima de tudo que consegue aprender a lidar com a situação no sentido de olhar para si mesmo com capacidade para melhorar. Aprofundei este assunto no artigo: Saiba como lidar com a depressão.

VOCÊ É UM SER SENSÍVEL
Quando você está sentindo alguma coisa é porque está vivo no seu interior, quando você não sente absolutamente nada sobre qualquer coisa, então isso é quando você sabe que algo está organicamente ou clinicamente errado. Os rótulos que são colocados em cima de nós, particularmente os rótulos negativos, depreciam-nos, retiram-nos capacidade quando começamos a identificar-nos com eles e a internalizá-los como algo concreto e imutável.

Com que rótulos você se identifica que possam estar a prejudicar a sua recuperação ou melhoria?

É normal sentir sensações desagradáveis no corpo. É comum ficarmos tristes, frustrados, desesperançados, angustiados, confusos, irritados. Todos estes sentimentos pertencem-nos enquanto seres humanos. É na verdade aquilo que faz de nós o que somos: seres sensíveis. Os sentimentos e as emoções permitem-nos retirarmos informação acerca dos acontecimentos exteriores, o quanto gostamos ou não gostamos do que nos acontece, daquilo que fazemos ou obtemos das nossas ações. Os nossos sentimentos reagem igualmente aos eventos internos, ou seja, aos nossos pensamentos acerca daquilo que pensamos e que sabemos estar a sentir. É a partir da interpretação que cada um de nós faz acerca daquilo que nos acontece, do resultados dos nossos comportamentos e atitudes e igualmente daquilo que pensamos acerca de nós próprios, dos outros e do mundo em geral que geramos um estado de ser.

É importante termos a noção que interpretamos as sensações que sentimos no corpo, e que essas interpretações são traduzidas num sentimento ou emoção, e que por sua vez esses sentimentos construídos pela nossa interpretação fazem emergir um determinado estado de ser. Se esse estado de ser é um estado deprimido e o continuarmos a alimentar com interpretações idênticas aquelas que nos conduziram até esse estado negativo, então entramos numa espiral negativa. Essa espiral negativa crescente promove a fusão ou colagem a esse estado de ser deprimido, emergindo a catalogação. Uma vez instituída a catalogação a pessoa entra num comportamento autosabotador da sua melhoria.

Provavelmente o gatilho para esta espiral negativa e depreciativa tem inicio numa tendência crescente para a hipersensibilidade às sensações e sentimentos negativos. É como se tendêssemos a negarmo-nos como seres humanos que somos. Aprofundei este assunto no artigo: 007 permissão para ser humano.



EVITE SABOTAR A SUA RECUPERAÇÃO
Quando as más sensações e os sentimentos negativos perduram no tempo. Quando a frequência, intensidade e duração dos mesmos atingem proporções extremas, por certo a pessoa fica incapacitada, afetando-lhe a sua funcionalidade de vida. A pessoa cansa-se de recorrentemente sentir-se mal. No entanto é necessário ganhar-se consciência que tudo isso pode estar a ser promovido pelo tipo de discurso e crenças que essa pessoa foi desenvolvendo ao longo do tempo. Em consulta psicológica, e em conversa com algumas pessoas que estavam a passar por momentos difíceis na sua vida, percebi que foram desenvolvendo um diálogo interno sabotador e prejudicial para a sua recuperação.

Apresento uma lista do discurso e crenças mais comuns que foram desenvolvendo:

Não dizer a ninguém como se estavam sentindo.
Confiar nos seus pensamentos irracionais.
isolamento.
Acreditar que se sentiriam mal para sempre.
Escolhas prejudiciais para a saúde (álcool, comida em excesso, pouco descanso ou descanso em excesso, ausência de exercício físico).
Recusar procurar ajuda.
Fingir que está tudo bem.
Afastamento dos seus amigos uma vez que todos parecem estar indo tão bem.
Entregar-se ao sentimento de culpa e sentimentos de constrangimento.
Pesquisa na Internet para obter informações ou alívio.
Aumento do egoísmo e parar de preocupar-se com os outros.
Parar radicalmente de tomar os medicamentos, se eles não estão ajudando.
Questionar-se acerca da eficácia da terapia.
Resistência a sugestões de amigos e familiares de suporte.
Evidentemente que num estado deprimido torna-se difícil fugir a alguns dos pensamentos expressos na lista anterior. É mais comum a pessoa colar-se ao pensamento depressivo. Mas lembre-se, assim como qualquer condição médica, a recuperação da depressão exige trabalho e esforço. Por exemplo, pense sobre a terapia física, que segue a uma lesão ortopédica. Certamente é difícil andar de bicicleta estacionária depois de uma operação do joelho? É horrível. Mas também é vital para a recuperação.

Sentir-se melhor não é apenas o resultado da sua melhoria, isso é parte dela. A recuperação da depressão envolve uma combinação do que o seu médico, a sua medicação (caso tenha recorrido a ela), o seu terapeuta ou psicólogo, o seu parceiro, os seus entes queridos e você podem fazer juntos. Não subestime o poder que você tem para fazer a diferença no seu processo de recuperação.

Na grande maioria das vezes é aconselhável que procure ajuda profissional, no sentido de cumprir um programa de tratamento estruturado e acompanhado por quem tem conhecimento técnico. Aprofundei este assunto no artigo: Depressão, como aceitar que precisa de ajuda psicológica? Ainda assim, é primordial entender que será sempre você mesmo que fará a diferença na sua própria recuperação. O seu querer, o seu empenho e desempenho naquilo que se propuser a fazer ou que lhe sugiram que faça irá por certo influenciar a sua melhoria.

Perguntas-me qual foi o meu progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo. – Séneca

Fonte: http://www.escolapsicologia.com/estou-deprimido-o-que-fazer-para-melhorar/

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